Após longas horas de minuciosos e exaustivos exames com um infindável número de eléctrodos ligados:
- Lamento imenso informá-los, mas a vossa filha é bipolar.
Isto não quer dizer que jogue pelos dois lados, apenas que sofre bruscas variações de humor. Mas o meu problema nem sequer é ser ou não bipolar ou não (na verdade, não sou). É apenas uma carrada de factores exógenos que alteram o meu humor.
Exemplificando...hoje comecei o dia muito placidamente e calmamente a dormir alegremente na minha cama, após o que entrei num estado de taquicardia perante a perspectiva de ter 15 min. para tomar banho, vestir e etc e sentar-me na aula, ao qual se seguiu um estado de profunda ansiedade (acompanhado por suores frios, arritmias, palidez, visões, tonturas e mais algumas coisas) por ser informada que íamos receber os testes de matemática (se a conversa não descamba para o escrutínio, vai parar à matemática). Fiquei caladinha, calminha e controlei-me até à 13h30...e foi então que me revoltei, gritei, chorei e fiquei com os olhos inchados e o nariz vermelho. E se a Rosarinho Valverde me aparece à frente tenho a sensação que me viro para ela e pergunto Oh donzela, isto é coisa que se faça? Não sei se já se apercebeu, mas a graduação das suas lentes não interessa nem ao menino Jesus, muito menos as suas viagens ao Tibete, ou o facto de mudar de carro ano sim ano não e este já ser o segundo Nissan Micra que tem. Que isso tudo, na realidade, não interessa a ninguém. Já estava na altura de cumprir com a sua parte e parar de dar à língua nas horas do Estado que se os meus pais não mudam de carro ano sim ano não e não vão ao Tibete volta e meia é porque pagam ao Estado. Mas de certeza que não é para lhe pagaram a si para falar. Por isso veja se começa a dar a matéria que falta um cagagésimo de tempo para o exame e não, a matéria não se dá a resolver os exercícios resolvidos cuja resolução já nós temos à frente. E não, os testes também não se corrigem a pôr incompleto quando nós resolvemos como vem na resolução dos exercícios resolvidos. E caso eu consiga, ao menos, entrar em Lisboa ou em Coimbra (o S.João vai fugindo a correr) e um dia mais tarde me apareça à frente no hospital, pode ter a certeza absoluta que vai ter uma morte lenta, dolorosa, agonizante, sufocante, e no fim dou-a a comer aos ratos.
Não sei se já repararam, mas isto contrasta fortemente com a felicidade exuberante de ontem.
Vou chorar mais um bocadinho ou então vou à escola buscar o trabalho de Área de Projecto ou vou à embaixada espanhola buscar os formulários para os exames que aquele povo é muito acolhedor e lá eu sei que entro na faculdade. Afinal, o exame de Biologia era exemplificar uma ligação peptídica (aquela coisa gira em que se põe radical para cima, carbono para baixo, afasta as pernas ao oxigénio e dali do meio sai um bocadinho de água e...puff, sai um aminoácido).
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