domingo, janeiro 28, 2007

Uma história...

..ao fim do dia, p'ra mostrar que já são horas de dormir e de sonhar. Já é hora da caminha vamos lá dormir. Vê lá fora as estrelas dormem a sorrir.E amanhã bem cedo, bem cedinho tu vais ver, acordas mais forte e mais esperto isso é crescer. Boa noite, sonhos lindos. Adeus e até amanhã. Isto era uma canção bonita (bem melhor que as do Vitinho ou dos Patinhos) que a minha mamã me cantava quando eu ainda dormia na caminha de grades e tinha na parede o papel dos elefantes (aquele que eu rasgava quando acordava). E a seguir, vinha uma história.
Ele conheceu Clarisse, uma jovem de 16 anos, em toda a sua inocência e ingenuidade, que despertava nele nele um instinto natural de amar o que é belo e simples. Ela despertou-o para aquilo que o rodeava.
Clarisse dava-lhe a seiva bruta e deixava-o a braços com um processo de conscencialização.
Era suposto Montague esquecer tudo. Esquecer todas as memórias, ficando apenas na essência com a essência, nú de preconceitos e estereótipos, deixando a pele funcionar como uma ténue barreira entre ele, na sua pura emanência, e tudo o resto, que lhe era agora apresentado como algo novo e inovador.
Clarisse passou-lhe a mão nas pálpebras finas e pediu-lhe que deixase ir as memórias, que não eram mais que a dor que pairava e flutuava como uma nuvem negra por cima deles.
Com os pés a tocar a fria superfície da água, Montague explicou-lhe que a vida não era tão simples como Clarisse fazia crer. Ele não podia simplesmente apagar um passado que o tinha construído, o tinha transformado na pessoa que era.
Apesar da sua ingenuidade, ela percebeu que tudo se baseava em escolhas. E ela não seria nunca a escolha de Montague. Seria apenas alguém que lhe recordava a simplicidade. Sentiu-se a chorar, mas os olhos mantiveram-se firmes e secos. A juventude de criança começava a ser levada pela realidade, e o orgulho que a esgotava instalou-se. Virou as costas e deixou-se ficar com a cabeça pousada nos joelhos. Era a dor de ser lúcida.
Apesar de as personagens serem do Fahrenheit 451 (ou um outro nº que começa por 4) a historinha pipi é o meu mais fantástico esforço para me manter acordada durante as aulas de português. Sonhos lindos a todos.

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