Quem viu Grey's Anatomy? Não é preciso responder. Toda a gente. Parece um bocado fantasia e exagero, estupidez até, aquela febre por cirugia. Cortar, escarafunchar, coser.
Wow!! Não é! É real mesmo. É melhor que fazer wakeboard! Para aqueles que gostam de bungee-jumping e de toda a adrenalina, aposto que isto é mil vezes melhor.
Paciente feminino, OP, 69 anos, Parkinson. Colocar eléctrodos bilaterais, nos núcleos subtalâmicos para diminuir a rigidez muscular. O contrato inicial era de que apenas ia assistir à cirurgia. A coisa já começou a ter piada quando me pediram ajuda (não que precisassem) para colocar o estereotaxímetro. Melhorou quando levei a doente ao TAC. Achava que o máximo de colaboração ia ser estar a conjugar TAC e RM para tentar localizar e delimitar os núcleos subtalâmicos.
A operação mesmo começou. Lâmina. Cortar o escalpe. Broca. Cheirinho nojento a pó de osso no ar e...puff! Um cérebro de fora. Mete muita coisa lá para dentro. Vai demorando séculos. Sou dispensada com metade da equipa cirúrgica para ir almoçar (já ia em 5 horas e meia de duração). Almoço grátis. Voltar ao esfrega esfrega, põe touca e sapatinhos e entra outra vez.
Parte final lá para meio da tarde. Colocar a bateria numa bolsa subcutânea na mama. Qual não é a minha surpresa quando:
Dr. P.: Sra. Enfermeira. Arranje-me por favor uma bata esterilizada para a Sra. Dra. Tinkerbella e luvas. E um degrau que ela não chega cá a cima. É uma doutora portátil.
Tinkas: (boca aberta tipo peixinho, outra vez)
Alguém me vestiu e calçou. Subi o degrau.
Dr. P.: Podes pegar no bisturi. Uma incisão leve mas firme. 10cm. Horizontal. Sem medo.
Tinkas: De certeza? Eu só peguei num bisturi para dissecar um coração de porco.
Dr. P.: Não achaste que ias ficar 8h só a ver pois não?
Cortei. Escarafunchei com o dedo. Fiz uma quase lipoaspiração manual para arranjar espaço para a bateria. Fiz um implante mamário com a bateria. E cosi! Com uma agulha a sério. Daquelas curvas. E com um porta agulhas. E só demorei 25 minutos a coser (o tempo esperado acho que seriam 3 minutos). Subcutâneos e intradérmicos.
Sim, é o auge. E a minha primeira paciente já consegue abrir e fechar as mãos. E vai ter uma ligeira cicatriz no peito (a da cabeça vai ficar escondida pelo cabelo quando crescer) que só usamos pontos de plástica.
Definitivamente mereceu a pena perder um dia inteiro de estudo de Anatomia Clínica (que me vale ou uma ausência no exame amanhã ou um chumbo no exame amanhã ou uma má nota no exame amanhã).
É o auge!
"It was like a ride. This crazy roller coaster ride with adrenaline shooting out of my ears. You would think that my hands would have been shaking, but they weren't. There was no shaking. Did I mention the drill?" Izzie Steves, Grey's Anatomy season 3 episode 16. Depois de fazer vários furos numa cabeça com uma broca.
quarta-feira, julho 01, 2009
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4 comentários:
Não consigo disfarçar ou esconder a inveja. Acho que da próxima vez que te vir te faço uma rasteira!!!
e eu que me sentia tão feliz por ter aprendido a suturar num porco...
eh pá tens uma senhora de uma sorte!
http://complicar.blogs.sapo.pt/13450.html
Parabéns!! Q bom!
deve ter sido incrivel... do teu ponto de vista, claro!! =)
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